A morte do taxista Almir Pinto Bahia, 46 anos, no último dia 25, no Aeroporto de Salvador, expôs uma realidade preocupante enfrentada por trabalhadores do setor. Segundo a Associação Geral dos Taxistas (AGT), ao menos 17 motoristas morreram de infarto na capital baiana desde julho, revelando um cenário de pressão e adoecimento crescente.
Almir foi encontrado sem vida dentro do carro, ainda com o ar-condicionado ligado, após colegas perceberem sua longa permanência parado no veículo. Permissionário, ele trabalhava com carro alugado, pagando cerca de R$ 100 por dia para atuar. De acordo com relatos, vinha demonstrando desgaste emocional e insatisfação com as dificuldades da profissão, especialmente no aeroporto.
O presidente da AGT, Denis Paim, resume a situação:
“A gente não aguenta tanta pressão, o coração é fraco.”
Além do estresse, fatores como hipertensão, obesidade, diabetes, infecções renais e transtornos mentais têm atingido os motoristas, que chegam a trabalhar até 18 horas por dia, muitas vezes sem tempo para refeições ou pausas básicas.
A violência também pesa na rotina. Entre janeiro e agosto, 194 taxistas foram assaltados em Salvador, sendo 40 somente em agosto. No mesmo período, 17 veículos foram roubados. Embora os números sejam menores que os do ano passado, o medo de assaltos ainda é constante.
De acordo com o cardiologista Marcos Barojas, do Hospital Mater Dei Salvador, o estresse contínuo eleva os níveis de cortisol, hormônio que, em excesso, prejudica o sistema cardiovascular. O sedentarismo, aliado à alimentação baseada em ultraprocessados, agrava os riscos.
“Esses hábitos aumentam a probabilidade de placas de colesterol e, consequentemente, de infartos”, explica o médico.
A falta de acompanhamento médico regular é outro problema. Muitos motoristas evitam consultas por receio de perder corridas ao se afastarem dos pontos de táxi. Para a AGT, é urgente que sejam criadas ações de saúde direcionadas à categoria, com atendimentos em locais estratégicos, como o aeroporto e pontos de grande movimento.
Enquanto isso, a rotina de alta pressão segue impactando diretamente a saúde dos trabalhadores, que se veem espremidos entre longas jornadas, riscos de violência e a concorrência de aplicativos de transporte.
Por Ataíde Barbosa/Foto: Marina Silva/CORREIO
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