O mundo vive um marco histórico na área da saúde: pela primeira vez, há mais crianças e adolescentes obesos do que desnutridos. O alerta foi feito pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em relatório divulgado nesta quarta-feira (10), que aponta a mudança no perfil nutricional da população jovem.
Segundo o documento, intitulado “Alimentando o Lucro: como os Ambientes Alimentares Estão Falhando com as Crianças”, 9,4% dos jovens entre 5 e 19 anos apresentam excesso de peso, enquanto 9,2% enfrentam carência alimentar. A inversão de indicadores escancara o impacto dos hábitos alimentares modernos e da expansão dos ultraprocessados, que ganharam espaço principalmente em países de baixa e média renda — hoje responsáveis por 81% dos casos de obesidade infantil no planeta.
No Brasil, o avanço foi ainda mais acelerado: desde o início dos anos 2000, a taxa de excesso de peso triplicou, impulsionada pela ampla oferta de produtos industrializados de baixo custo e forte apelo publicitário voltado ao público infantojuvenil.
Os números reforçam a gravidade da situação. Em 25 anos, o total de crianças e adolescentes acima do peso dobrou, passando de 194 milhões em 2000 para 391 milhões em 2025. Atualmente, 5% das crianças menores de 5 anos e 20% dos jovens de 5 a 19 anos já convivem com excesso de peso.
Apesar do cenário preocupante, o Brasil aparece como referência em medidas de enfrentamento, com ações como a rotulagem de advertência em embalagens, incentivos à produção e consumo de alimentos in natura e o fortalecimento do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que prioriza refeições mais saudáveis nas escolas públicas.
O Unicef defende, no entanto, que os esforços precisam ir além. Entre as recomendações estão a restrição da publicidade de ultraprocessados, a criação de ambientes que estimulem escolhas saudáveis, a valorização do aleitamento materno e a inclusão de crianças e adolescentes na construção de políticas públicas que afetam diretamente sua saúde e qualidade de vida.
A mensagem do relatório é clara: combater a obesidade infantil exige um compromisso global que vá além da mesa, alcançando governos, empresas e a sociedade como um todo.
Por Ataíde Barbosa/Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
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