A rotina de tiroteios continua a marcar o cotidiano dos soteropolitanos em 2025. Segundo dados do Instituto Fogo Cruzado, entre janeiro e agosto deste ano, 146 bairros da capital baiana registraram ocorrências de disparos de arma de fogo — o que corresponde a 85,38% do território urbano da cidade.
Os números revelam um cenário crítico: foram 856 tiroteios no período, resultando em 647 mortes e 188 feridos. Entre os bairros mais afetados, Tancredo Neves lidera o ranking, com aproximadamente 29 confrontos, seguido por Lobato e Mussurunga, ambos com mais de 25 episódios. Federação e Fazenda Coutos completam a lista dos cinco mais violentos.
Por outro lado, 25 bairros permaneceram livres de registros de tiros em 2025. Entre eles, estão regiões que em anos anteriores figuraram como áreas de maior vulnerabilidade, a exemplo de Amaralina, Alto das Pombas e Calabar.
Causas estruturais
Para o coordenador da Rede de Observatórios da Segurança na Bahia, Dudu Ribeiro, os dados refletem tanto a disputa pelo mercado ilícito de drogas e armas quanto as estratégias de policiamento e investimentos públicos nas comunidades.
“O fato de o ranking de bairros mais violentos mudar ao longo do ano mostra que a violência armada está enraizada em Salvador, sobretudo nas periferias e em áreas historicamente marcadas por desigualdades”, explica.
O professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e especialista em segurança pública, Horácio Hastenreiter, acrescenta que a dinâmica das facções é um fator determinante.
“Quando há hegemonia de um único grupo criminoso em determinado território, tende a haver menos confrontos. Em São Paulo, por exemplo, os homicídios caíram quando uma facção se consolidou, reduzindo disputas internas”, observa.
Respostas e desafios
Apesar da gravidade dos números, a Secretaria da Segurança Pública da Bahia (SSP) destacou, em nota, que o trabalho conjunto das forças estaduais e federais ampliou o combate ao crime organizado. Segundo o órgão, houve aumento de 20% nas apreensões de armas e queda de 6% em registros de homicídios, latrocínios e lesões dolosas seguidas de morte em 2025.
Para Dudu Ribeiro, contudo, a superação da violência depende de mais do que operações ostensivas.
“Precisamos de ações de inteligência aliadas a políticas de cidadania, com atenção especial à população carcerária, que também deve ser reconhecida como cidadã de direitos. Só assim construiremos caminhos mais seguros e uma verdadeira cultura de paz”, conclui.
Por Ataíde Barbosa/Foto: Marina Silva/Arquivo CORREIO
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